quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Olhar pequenalto

(Certamente, lembrar daquele olhar ainda vai me marcar por uma longa data)
O olhar daquela criança  na minha direção estava me deixando aflita. A fixação... Parecia me reconhecer. Olhava, como se estivesse me anotando, me decorando, mas já sabia de cor. O exagero da falsa intimidade descoberta, uma retrospectiva breve nos meus olhos...
Sabia o que estava acontecendo comigo naquele momento. Estava enxergando além dos meus olhos: pude sentir. As sobrancelhas contorcidas pareciam como as de quem compreende um ensinamento ou alguma teoria mirabolante (e me enquadro nisso)! Alguém que tenta memorizar as cicatrizes de outro mundo, de outra alma.
Nunca vou me esquecer daquela criança. Nunca vou esquecer do que senti quando alguém enxergou além de mim, sem sequer dizer uma palavra.
E só fui entender hoje: todos temos um conhecimento assim, repentino, que não carece de palavras. Basta olhar, olhar, para saber onde brota a dor e a alegria em cada um. Somos como essa paisagem que enfeita a minha janela: calma, meio turbulenta em alguns instantes, mas traz sintonia, sim. E merecemos cada segundo dessa afinada cumplicidade. Só é preciso de sensibilidade e sol (interno).
Obrigada, criança!    

Música que escutei para escrever: 

https://www.youtube.com/watch?v=i3ZqZ9wtfWk




Penalizo: dos que dizem que não tenho mais idade para ilusões, desconfio.
É como me sinto: uma eterna Alice.
Ser verdinha até não mais poder.

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